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O Bolsonarismo Pós-Bolsonaro

Atualizado: 24 de nov. de 2022



 

Na eleição presidencial de 2022, o presidente Jair Bolsonaro, do Partido Liberal (PL), não conseguiu sua reeleição, sendo derrotado pelo candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A eleição foi bastante acirrada entre ambos os candidatos, sendo decidida por uma pequena margem percentual de 1,8% no segundo turno. Nesse contexto, para derrotar o atual presidente no pleito eleitoral, foi realizada uma frente ampla entre diversas lideranças de campos políticos díspares (como Marina Silva e Simone Tebet) para eleger Lula, posto os malefícios que o governo Bolsonaro e seus aliados vêm causando nas estruturas políticas e sociais brasileiras.


No entanto, apesar do fracasso de Bolsonaro, muitos de seus aliados saíram vitoriosos nas eleições de 2022. A título de exemplo, Tarcísio de Freitas e Cláudio Castro, foram eleitos como governadores, respectivamente, nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Além disso, os ex-ministros e aliados ao bolsonarismo, Damares Alves, Marcos Pontes e Sérgio Moro ganharam eleições para o Senado Federal no Distrito Federal, em São Paulo e no Paraná, respectivamente. Em suma, essas vitórias perpetuam a herança tenebrosa do bolsonarismo nas instituições nacionais, marcado por uma normalização do preconceito no ambiente político, desprezo por pessoas com pensamentos divergentes ao da extrema-direita, menosprezo aos princípios democráticos e uso recorrente de fake news (notícias falsas, na tradução para o português).


Durante a atual gestão federal, foram proferidos discursos preconceituosos e que são considerados criminosos pela legislação vigente. A título de exemplo, Bolsonaro, em live realizada nas redes sociais, em janeiro de 2020, fez declarações de cunho racista direcionadas aos indígenas, ao afirmar que “cada vez mais, o índio é um ser humano igual a nós”. Declarações dessa procedência não foram expressas apenas nessa ocasião, nem só por Bolsonaro, mas também por seus subordinados. O ex-secretário da Cultura, Roberto Alvim, em 2020, realizou um pronunciamento com apologia ao nazismo, parafraseando o discurso do ministro de Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels. Esse é um dentre vários casos que confirmam a proliferação do discurso de cunho fascista não se concentra apenas na figura de Jair Bolsonaro e, portanto, expõe o Estado brasileiro a imagem de um governo que normaliza a discriminação.


Nesse sentido, é imprescindível pontuar que, infelizmente, muitos brasileiros partilham das mesmas opiniões de Bolsonaro, entretanto, não as expressavam abertamente pois eram freados pelo receio da punição penal. Logo, essas falas encorajaram seus apoiadores a exporem seus preconceitos, difundindo ataques em um suposto caráter de normalidade e os caracterizando como apenas uma genuína “opinião”, supostamente amparados pelo direito de “liberdade de expressão”.


Além da normalização do preconceito, outro legado tenebroso do bolsonarismo foi o aumento exponencial do compartilhamento de notícias falsas. Durante a gestão presidencial, Bolsonaro emitiu diversas notícias falaciosas a respeito de múltiplas temáticas, desde ataques a adversários políticos até temas ligados à Covid-19. A disseminação das notícias falsas eram sustentadas, de acordo com um documento de autoria do Supremo Tribunal Federal (STF), com base em achados da Polícia Federal (PF) e da Procuradoria-Geral da República (PGR), pelo chamado “Gabinete do Ódio”, um grupo de bolsonaristas responsável pela criação e disseminação de notícias enganosas usando a estrutura do Estado e envolvendo adversários políticos do atual presidente. Nesse sentido, de acordo com a deputada Lídice da Mata, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), relatora da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News, esse suposto gabinete do ódio age em consonância com o próprio Bolsonaro. Assim, mesmo com a sua derrocada no pleito eleitoral, a máquina de mentiras se mantém, e este malefício provavelmente será "herdado" por seus aliados nos próximos anos.


Ademais, outro legado sombrio do bolsonarismo foi a fragilização da democracia brasileira. O resultado da eleição presidencial não foi aceito por muitos de seus apoiadores, que bloquearam rodovias de vinte e seis estados para manifestar seu descontentamento e exigir uma intervenção federal, alegando fraude nas urnas eletrônicas; outros ainda mais alienados, clamam o retorno à ditadura militar. Esses pensamentos que ultrapassam a linha do absurdo foram assimilados por seus apoiadores por meio da participação de Bolsonaro em atos antidemocráticos, que questionavam a legitimidade das instituições brasileiras.


A soma desses fatores resultou na divisão de muitos brasileiros devido a questões políticas. Em um evento de campanha durante as eleições presidenciais de 2018, Bolsonaro afirmou que ele e seus eleitores iam "fuzilar a petralhada”, o que foi interpretado por muitos especialistas como uma incitação a violência. Infelizmente, os mais exaltados seguem fielmente as palavras do presidente, demonizando opositores de tal modo que muitas vezes resultam em agressões físicas. Nesse sentido, no Paraná, em setembro de 2022, um fanático bolsonarista invadiu uma festa de aniversário com o tema PT e assassinou o aniversariante. Tal ódio às opiniões divergentes dividiu o país, com a intolerância resultando no medo de parte dos opositores ao atual governo em expressarem livremente sua opinião política, com receio de receberem hostilização ou agressão física por parte dos mais exaltados apoiadores do presidente. Além disso, o momento de polarização política também abalou diversos laços familiares e de amizades, sendo muitos vínculos afetivos desfeitos devido a divergências de opiniões políticas.


Essa polarização política, é atrelada à violência e, provavelmente, tende a se estender nos próximos anos. Em um país extremamente dividido, o impacto do bolsonarismo, lamentavelmente, permanecerá na sociedade brasileira. Essa herança nefasta do atual governo federal pode ser vinculada no futuro à própria figura de Bolsonaro, no qual o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, já declarou que conta com ele como principal opositor do governo Lula e futuro presidenciável nas eleições de 2026. Da mesma forma, o legado sombrio também pode estar nas mãos de potenciais herdeiros políticos, como o governador eleito de São Paulo, Tarcisio de Freitas, e o deputado eleito por Minas Gerais, Nikolas Ferreira.


Contemporaneamente, há exaustivas discussões que giram em torno do ambiente político conturbado, essas que são mais sobre os candidatos do que as necessidades do Estado. Qual a vantagem de lutar contra seus semelhantes sendo que, no fim, as misérias que assolam o país permanecem inalteradas? A tempos, o Brasil sofre com conflitos internos, mas ainda não haviam ameaças à democracia - um direito de todos, e privá-la de um povo é atacar os princípios constitucionais; exercer sua força sobre outrem é um ato primitivo que não resulta em moralidade, na verdade, estamos em retrocesso.


Naomi Prates

Matheus Maia

Resenha Econômica é uma publicação do Programa de Educação Tutorial - PET/SESu - do Curso de Ciências Econômicas, com resumos de comentários ou notícias apresentados na imprensa. As opiniões aqui expressas não refletem necessariamente a posição do grupo a respeito dos temas abordados. Qualquer dúvida sobre as atividades do PET escreva para: peteconomiaufes@gmail.com.


 

[ 1 ] TEIXEIRA, Lucas Borges. Lula derrota Bolsonaro e é o primeiro a ser eleito presidente pela 3ª vez. UOL, 2022. Disponível em: <https://bityli.com/FSkDFLft>. Acesso em: 11 de set. 2022.

[ 2 ]CORREIA, Victor. Lula, Simone Tebet e Marina Silva fazem campanha em Minas Gerais. Correio Braziliense, 2022. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2022/10/5045912-lula-simone-tebet-e-marina-silva-fazem-campanha-em-minas-gerais.html>Acesso em: 11 de set. 2022.

[ 3 ] Movimento político de extrema-direita que ascendeu com a eleição de Bolsonaro em 2018.

[ 4 ] Cada vez mais, o índio é um ser humano igual a nós', diz Bolsonaro em transmissão nas redes sociais. G1, 2020. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/01/24/cada-vez-mais-o-indio-e-um-ser-humano-igual-a-nos-diz-bolsonaro-em-transmissao-nas-redes-sociais.ghtml>. Acesso em: 11 de set. 2022.

[ 5 ] ALESI, Gil. Secretário da Cultura de Bolsonaro imita fala de nazista Goebbels e é demitido. EL País Brasil, 2020. Disponível em: <https://bityli.com/IEOTgIvUM>. Acesso em: 11 de set. 2022.

[ 6 ] LAGO, Rudolfo. Documento explica como funciona o “Gabinete do Ódio”. Disponível:<https://congressoemfoco.uol.com.br/area/governo/documento-do-stf-explica-como-funciona-o-gabinete-do-odio/>. Acesso em: 11 de set. 2022.

[ 7 ] SARDINHA, Edson. Bolsonaro age em conjunto com o gabinete do ódio, diz relatora da CPI das Fake News. Congresso em foco, 2020. Disponível em: <https://bityli.com/dcKxLYIEh>. Acesso em: 11 de set. 2022.

[ 8 ] Medida no qual a União retira a autonomia de Estados e Municípios.

[ 9 ] LOPES, Raquel. Bolsonaristas fazem cerca de 270 bloqueios e interdições em estradas de 22 estados e no DF. Yahoo! Finanças, 2022.Disponível em: <https://bityli.com/BMXiCJGdV>. Acesso em: 11 de set. 2022.

[10] RIBEIRO, Janaína. Set/2018: "Vamos fuzilar a petralhada", diz Bolsonaro em campanha no Acre. Exame, 2018. Disponível em: <https://bityli.com/9s6t8dd>. Acesso em: 11 de set. 2022.

[11] Bolsonarista invade festa e atira em petista no Paraná. Poder 360, 2022. Disponível em: <https://bityli.com/lLPVpSHg>. Acesso em: 11 de set. 2022.

[12] SOUZA, Felipe. Famílias rompidas pelas eleições: 'Você não é mais bem-vindo', diz mãe de jovem. BBC, Brasil, 2022.Disponível em:: <https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2022/11/04/familias-rompidas-pelas-eleicoes-voce-nao-e-mais-bem-vindo-diz-mae-de-jovem-do-parana.htm>. Acesso em: 15 de set. 2022.

[13] LESSA, Henrique. Valdemar anuncia que Bolsonaro será o candidato do PL à Presidência em 2026. Disponível em: <https://bityli.com/fOzsDWnj>. Acesso em: 11 de set. 2022.


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