top of page
Foto do escritorPET Economia UFES

Prenda-me se for capaz: As transformações no mercado do trabalho

Atualizado: 13 de jun. de 2023



__________________________________________________________________________________

Job Hopping, termo em inglês que pode ser traduzido literalmente como "saltando de emprego", é uma expressão que vem sendo utilizada para retratar uma tendência crescente entre jovens: mudar com frequência de colocação. A Geração Z, pessoas nascidas entre 1990 e 2010, tem apresentado cada vez maior dinamicidade e valorização no mercado de trabalho, o que os faz considerar construir carreira em um único lugar inconciliável com seus objetivos profissionais. A mudança na postura dos jovens, em relação ao tipo de emprego desejado, mostra como a forma que cada geração se coloca no mercado de trabalho é única e se transforma juntamente com as faces do capitalismo.


A influência das oscilações cíclicas do capitalismo na cultura do trabalho não é um efeito recente, podendo ser visto desde a gênese desse sistema econômico. Nos Anos Dourados (entre a Segunda Guerra Mundial e a Crise dos anos 1970), por exemplo, o crescimento da economia mundial e o avanço do Estado de Bem Estar Social do pós-guerra em países desenvolvidos levou a uma série de transformações na cultura do trabalho, como o declínio do campesinato, crescimento do nível de educação e a multiplicação de uma massa de trabalhadores industriais. Essas mudanças foram justamente o que Hobsbawm analisou como transformações sociais e culturais na sociedade da “Era de Ouro”, que ocorreram com maior intensidade nos países desenvolvidos, mas que se reverberaram nas nações periféricas.


A geração dos “Baby Boomers”, nascidos entre 1940 e 1960, principalmente das nações desenvolvidas, percebiam o trabalho, sobretudo o emprego fixo, com direitos e benefícios garantidos, como um porto seguro após os mares tempestuosos da economia mundial durante as grandes guerras. Essa característica também perpetuou durante a passagem da geração X, nascidos entre 1960 e 1970, pelo mercado de trabalho, mesmo que esses tenham sido mais “pé no chão” em função das suas expectativas de emprego.


Todavia, durante as décadas de 1970 e 1980, as mudanças no capitalismo e avanço do neoliberalismo como respostas a mais uma crise capitalista, geraram um cenário inconstante, contribuindo para o aumento do abismo entre gerações. A elevação da capacidade ociosa, o aumento do desemprego, a redução nas taxas de lucro e o processo inflacionário refletiram na corrosão da política keynesiana e no avanço do pensamento neolibral. Diante disso, se desenvolveu uma reestruturação do processo produtivo (toyotista), em que a flexibilidade passou a orientar tanto a produção quanto o mercado de trabalho. Nos países desenvolvidos, isso representou uma precarização das ocupações, com trabalho sob demanda, menos direitos trabalhistas, trabalho parcial, temporário ou subcontratado. Nos países periféricos, as ocupações precárias se amplificaram.


Tais mudanças econômicas e produtivas refletiram em uma revolução cultural e uma mudança na mentalidade dos que viviam no período. Isso ocorreu principalmente nos países desenvolvidos, fazendo com que o trabalhador procurasse uma jornada mais “flexível” e menos específica.


Nesse período, foi possível observar a queda de um quarto no número total de pessoas empregadas na manufatura nos seis velhos países industriais da Europa, entre 1973 e 1980[1], ao mesmo tempo em que a tecnologia começava a avançar no cenário mundial. Essa geração viveu a era que o Neoliberalismo ascendia como engrenagem mundial, com eventos históricos, como o período Thatcher-Reagan, a queda do Muro de Berlim e a abertura econômica da antiga URSS.


A ascensão da geração Y, conhecidos como “millennials”, nascidos de 1978 ao início dos anos 1990, trouxe uma nova fase ao mercado de trabalho das nações desenvolvidas, já que esses cresceram em contato com as tecnologias da informação e presenciaram a cultura da impermanência e a falta de garantias, em decorrência dos mercados voláteis. É a primeira geração da história a ter maior conhecimento no uso da tecnologia.


A mentalidade dessa nova geração, inserida no mercado de trabalho no início do século XXI se chocava com a de seus pais. De acordo com o historiador Eric Hobsbawm, isso tem relação com os momentos distintos presenciados por essas gerações. Contrastando com os seus pais, que haviam passado por um período de guerras seguido de uma realidade de prosperidade, os jovens criados na bonança da Era de Ouro colocavam em xeque a ideia de trabalho como porto seguro, considerando o emprego como algo que pode ser facilmente obtido e deixado de lado a qualquer hora para passar uns meses no Nepal, por exemplo. A geração Y incorporou o mundo instável aos seus propósitos, e passaram a ser movidos a mudanças constantes, como afirma o CEO Richard Uchoa, da LEO Learning, empresa de desenvolvimento corporativo[2].


Com a chegada da geração Z, nota-se outro choque entre mentalidades. A letra que a define está relacionada ao termo zapping, associado a um alto fluxo e constante troca de informações em um reduzido espaço de tempo[3]. Diversos eventos históricos que transformaram o mundo formaram o cenário em que a geração Z nasceu e se desenvolveu: o 11 de Setembro; a crise de 2008; a inexistência quase total de um mundo off-line. Diante dos cenários de insegurança, incerteza, desemprego e a visão de mundo imediatista, a Geração Z tornou-se menos idealista e mais pragmática.


Esses indivíduos cresceram já no mundo globalizado, com a tecnologia sendo parte de suas vidas. São marcados por uma vida com excessos, com eventos noticiados em tempo real, e o volume de informações se tornando obsoleto em um curto espaço de tempo. Essa instantaneidade geral estimulou os jovens a desvalorizar as coisas rapidamente[4]. Essa visão de um mundo pequeno está ligada à nova fase que o capitalismo vive, influenciado pela globalização, em que a prioridade das empresas é a riqueza a curto prazo com o máximo de produtividade.


A absorção das tecnologias na vida cotidiana também fortaleceu o individualismo, característica marcante desse grupo. O mundo globalizado e a internet facilitaram o intercâmbio de informações e a oportunidade de socialização entre pessoas de qualquer ponto do mundo, mas afastou os jovens do contato real e da vida em sociedade. Observa-se essas características expressas na sua inserção no mercado de trabalho, marcada por comportamentos impacientes, diretos, individuais e incontroláveis. Além disso, os profissionais atuais usam a tecnologia como ferramenta para expandir suas possibilidades de carreira ao não ficarem mais limitados ao local físico em que se encontram.


Todas as mudanças apresentadas refletiram em uma geração que troca frequentemente de trabalho, e não se adapta a ambientes autoritários. Dessa forma, os jovens tendem a opções de trabalho que promovem retorno rápido, autogestão e que se encaixam em seu cotidiano dinâmico. Essa realidade produz uma força de trabalho perfeita para o sistema de acumulação flexível, a qual confronta a rigidez do fordismo e abre espaço para o crescimento do trabalho precarizado, de tal forma que as características desses trabalhadores os levam muitas vezes à imersão no empreendedorismo e no trabalho autônomo, principalmente no meio digital e em home office. Um levantamento realizado pela Globo[5] constatou que 24% dos jovens, de 16 a 30 anos, já têm seu próprio negócio e 60% querem ser empreendedores no futuro.


Com isso, é visível o impacto que as mudanças político-sociais dentro do sistema capitalista têm na sociedade. O mercado de trabalho faz parte desse sistema, bem como os próprios ideais individuais de futuro profissional. As diferentes gerações: Baby Boomers, X, Y e Z, e seus constantes choques de ideais no âmbito do trabalho, nos mostram a evolução contínua de um sistema que muitos consideram estático e imutável. A geração que cresce hoje no mundo sempre terá um choque com a geração anterior, e assim será sucessivamente. Entender isso é fundamental para enxergar a mudança do mercado de trabalho não como escolhas “individuais”, mas como um fluxo do sistema capitalista.


Elóra Travezani

Maria Luiza Patricio

__________________________________________________________________________________

Resenha Econômica é uma publicação do Programa de Educação Tutorial - PET/SESu - do Curso de Ciências Econômicas, com resumos de comentários ou notícias apresentados na imprensa. As opiniões aqui expressas não refletem necessariamente a posição do grupo a respeito dos temas abordados. Qualquer dúvida sobre as atividades do PET escreva para: peteconomiaufes@gmail.com.

[1] Hobsbawm, Eric J., Marcos Santarrita, e Eric J. Hobsbawm. Era dos extremos: o breve século XX; 1914-1991. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

[2] Porque parece que os jovens não procuram estabilidade no emprego como antigamente. Disponível em: <https://www.semprefamilia.com.br/trabalho>. Acesso em: 06 abr. 2023.

[3] Geração Z no mercado de trabalho. Disponível em: <https://d1wqtxts1xzle7.cloudfront.net/62403929/Geracao-Z-no-Mercado-de-Trabalho>. Acesso em: 06. abr. 2023.

[4] Geração Z no mercado de trabalho. Disponível em: <https://www.google.com/url?q=https://d1wqtxts1xzle7.cloudfront.net/62403929/Geracao-Z-no-Mercado-de-Trabalho>. Acesso em: 06 abr. 2023.

[5] GERBELLI, Luiz Guilherme. 60% dos jovens com até 30 anos querem ser empreendedores, mostra levantamento. 2021. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/pme/noticia/2021/06/23/60percent-dos-jovens-com-ate-30-anos-querem-ser-empreendedores-mostra-levantamento.ghtml>. Acesso em: 06 abr. 2023.

42 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page