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O plano que mudou a REALidade do país.



O dragão da inflação tem fome de cesta básica na charge de hoje do Correio. Disponível em: https://encr.pw/d9y1U.  Acesso em: 21 mar. 2024.

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“A perda de noção de valor” - Essa é a frase em unanimidade dita pelos servidores do Banco Central, durante a crise inflacionária que assolava o país entre os anos de 80 e 90.

Uma das origens da hiperinflação foi o aumento substancial na taxa de juros dos Estados Unidos nos anos de 1979, dessa forma, os contratos de empréstimos passaram por um grande reajuste que resultou de forma direta no encarecimento da nossa dívida externa, uma vez que esta era atrelada ao dólar. Durante os quinze anos que se sucederam, o país passou por oito planos econômicos voltados a combater a inflação galopante e quatro diferentes moedas, entretanto, somente um plano obteve êxito, o Real.[1]


Em 1979, seguindo a política de arrocho salarial e desvalorização da moeda, que prejudicava a população, a inflação chegou a 100% anual, isso somado a um período de forte desaceleração econômica e alto desemprego.[2] Em 1986, em um cenário de inflação persistente, foi anunciado o Plano Cruzado, que contou com o congelamento de preço, uma nova moeda (Cruzado) e o câmbio fixo como principais medidas. Idealizado por Francisco Lopes, então assessor especial da Presidência da República, que venceu o debate de ideias contra Pérsio Arida e André Lara Rezende que propunham uma moeda indexada. Contudo, o plano fracassou, dentre os motivos estava a manutenção prolongada do congelamento dos preços para fins eleitorais.[3] Ainda no governo Sarney, tentou-se o Plano Bresser e o Plano Verão, o resultado de ambas as medidas foi a ineficácia, dado que os planos não conseguiram controlar a inflação, seja por não atacar o principal motivo, seja por não ter credibilidade. Por fim, o resultado da adoção dessas políticas insatisfatórias, foi o aumento ainda maior da inflação, que chegou a casa dos quatro dígitos.


Durante a década de 1990, o cenário da economia brasileira era assustador. A inflação mensal corroía o poder de compra dos trabalhadores, fazendo com que comprar e estocar alimentos e itens de necessidade básica fosse a estratégia utilizada para tentar driblar a elevação constante dos preços. À vista disso, e olhando por outra ótica, os comerciantes também tiveram que se adaptar, organizando a logística de recebimento e de distribuição de produtos para atender a demanda intensa nos primeiros dias do mês – e corredores praticamente vazios nas semanas seguintes.


Após inúmeras tentativas de controle da economia, somado a um conjunto de planos fracassados, o Plano Real começou a ser desenhado em 1993, durante o governo de Itamar Franco. O cenário de experiências e planos econômicos falidos permitiu que os planejadores do novo programa de estabilização econômica enxergassem e abordassem uma nova perspectiva durante o processo de elaboração, contando com alterações primordiais ao sucesso do plano.


Considerando isso, dessa vez inspirado na Proposta Larida de Arida e Lara Rezende, o Plano Real passou a ser implementado no país de forma articulada e gradual, através da participação ativa do Banco Central. Por conseguinte, a proposta se distanciava da necessidade do choque heterodoxo e evitava o congelamento de preços. Portanto, além de adotar uma nova abordagem teórica, não focava apenas na mudança do padrão monetário e ainda previa programas de apoio às mudanças que atingiram a essa população que não sabia mais como viver sem a inflação.


O plano econômico contou com três fases de elaboração. A primeira delas foi o lançamento do Programa de Ação Imediata (PAI), que teve início em junho de 1993, antes mesmo do lançamento do Real. O objetivo era, principalmente, equilibrar as contas públicas e também reduzir a rigidez dos gastos da União por meio de instrumentos monetários e fiscais que previam a redução dos gastos, revisão de orçamento, ajustes nas estruturas bancárias, combate à evasão fiscal e a privatização de empresas públicas.[4]


A próxima fase do plano tratava da utilização de uma moeda escritural, a chamada Unidade Real de Valor (URV). Por não poder ser usada como meio de pagamento, não era efetivamente uma moeda, sendo, na realidade, uma unidade de conta que realizava a paridade com o dólar e também com a moeda da época, o cruzeiro real. Considerando o problema da memória inflacionária, – a certeza de que a inflação aumentaria nos próximos meses, fazia com que a inflação passada se perpetuasse para o presente – a URV realizou um papel primordial ao absorver a variação dos preços, baseada em um sistema que continha duas moedas, a antiga inflacionada e a nova que tinha seu valor diariamente corrigido, reformulando a expectativa do país quanto aos valores da inflação e abrindo caminho para o lançamento do real.


Por fim, a última fase e implementação completa do Plano Real, poucos meses após o lançamento da segunda fase, foi a transformação dessa unidade de valor, a URV, em uma moeda, o Real. Quando começou circular no país, tinha paridade com a URV e valia cerca de CR$2.750 cruzeiros reais. Além disso, outra parte importante dessa fase foram as medidas de apoio a possíveis desajustes econômicos, como exemplo, o estabelecimento de um teto para a taxa de câmbio e a determinação de um depósito compulsório com taxa de 100%, permitindo que o Banco Central controlasse a oferta de crédito.[5]


Atingido o seu principal objetivo, o Plano Real foi um processo de estabilização econômica de enorme sucesso e representou a quebra da espinha dorsal da inflação brasileira. Já no ano seguinte à sua implementação, em 1995, a inflação atingiu um valor próximo a 22%[6] o que era um verdadeiro momento de alívio para o país. Diante disso, um novo desafio surgia, o compromisso em assegurar a estabilidade e o poder de compra da moeda brasileira ao longo do tempo, frente ao cenário de instabilidades que viviam os países latinos-americanos.[7]


É consenso que o Plano Real trouxe uma gama de benefícios para a economia brasileira, proporcionando segurança para os agentes econômicos, estimulando o consumo, o investimento e como consequência o crescimento econômico. Ademais, a estabilização monetária restaurou as condições de crédito, incentivando financiamentos e favorecendo o mercado. No entanto, é importante destacar que o Plano Real não resolveu todos os problemas econômicos do Brasil. Questões como a desigualdade, a infraestrutura deficitária e a necessidade de reformas estruturais ainda persistem.


Parte dessas consequências foram atribuídas devido ao patamar de valorização excessiva do real frente ao dólar. Portanto, no contexto da época, significa dizer que importar era mais vantajoso que exportar, dessa forma, as reservas eram reduzidas ao retirar a moeda americana do país, fragilizando assim, a capacidade de responder a crises cambiais, como a que ocorreu em 1999.


Por conta dos juros altos, instituídos para atrair fluxo especulativo e reverter a queda das reservas, a dívida pública passou de 30,4% do PIB para 41,7% em um curto período de tempo. Isso levou a perda da credibilidade da âncora fiscal, fazendo com que o Banco Central abandonasse a âncora cambial e adotasse o regime de metas da inflação.[8]


Para mais, a população sentiu a forte desaceleração econômica, dado que, em 1993, o crescimento estava em torno de 4,7% e em seis anos caiu para menos de 1%. A explicação desse desaquecimento foi a taxa de juros estipulada pelo BACEN, que gerava uma forte retração no consumo e afastava os investimentos produtivos. Adicionalmente, a taxa de desemprego que antes da implantação do Plano Real era de 5,7% passou para 8,30% em apenas cinco anos depois.[9]


Dado o exposto, o sucesso do real impressiona ao considerar que os primeiros anos de implementação contaram com inúmeros desajustes econômicos. As consequências do plano, como o crescimento do desemprego e a elevação da taxa de juros, afetavam de forma direta a parte mais pobre da população, resultando no aumento da pobreza e miséria no país. Dessa forma, é importante pensar que os métodos de combate aos processos inflacionários devem ser cuidadosamente avaliados, visto que suas ramificações podem aniquilar permanentemente as aspirações futuras de uma nação.


Diogo Schiavinatto

Maria Caneva

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Resenha Econômica é uma publicação do Programa de Educação Tutorial - PET/SESu - do Curso de Ciências Econômicas, com resumos de comentários ou notícias apresentados na imprensa. As opiniões aqui expressas não refletem necessariamente a posição do grupo a respeito dos temas abordados. Qualquer dúvida sobre as atividades do PET escreva para: peteconomiaufes@gmail.com.




REFÊRENCIAS:


[1]  Antes do Plano Real, inflação no Brasil chegou a 2500% ao ano. Disponível em: https://bit.ly/4ckY92l. Acesso em 13 mar. 2024.

[2]  Como era viver no Brasil da inflação descontrolada dos anos 80. Disponível em: https://bit.ly/3IN7JgF . Acesso em 15 mar. 2024.

[3]  O Plano Cruzado na perspectiva de seus formuladores: Pérsio Arida e Luiz Gonzaga Belluzzo . Disponível em: https://bit.ly/4aogXMz . Acesso em 25.mar. 2024.

 [4] Ajuste das contas públicas e transparência na comunicação explicam sucesso do Plano Real. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/detalhenoticia/358/noticia. Acesso em 15 mar. 2024.

[5] Há 30 anos, nascia a URV, moeda virtual que possibilitou o lançamento do até hoje estável real. Disponível em: https://acesse.dev/dHJEg.Acesso em 12 mar. 2024

[6] Plano Real. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/planoreal. Acesso em: 14 mar. 2024.

[7]  Atlas Histórico do Brasil. Disponível em: https://atlas.fgv.br/verbete/6303. Acesso em 21 mar. 2024. Atlas Histórico do Brasil. Disponível em: https://atlas.fgv.br/verbete/6303. Acesso em 21 mar. 2024.

[8]  Uma revisão critica do Plano Real (1993-1998): Antecedentes, etapas e resultados. Disponível em: https://bit.ly/3x2Z3jz. Acesso em 17 mar. 2024.

[9] Uma revisão critica do Plano Real (1993-1998): Antecedentes, etapas e resultados. Disponível em: https://bit.ly/3x2Z3jz. Acesso em 17 mar. 2024.

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